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Organismos e pastorais sociais visitam comunidades atingidas pela tragédia da Braskem

Organismos e pastorais sociais visitam comunidades atingidas pela tragédia da Braskem

O caso da Braskem em Maceió é reconhecido como o maior crime ambiental em área urbana no mundo. Assim, como os crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, o roteiro de descaso com a população é o mesmo. Isso não é um fenômeno da natureza, ele foi provocado pela exploração durante 40 anos de um mineral, sal-gema, em uma área urbana.

Como tremores de terra causaram o afundamento de solos em cinco bairros de Maceió e cerca de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e mais de 200 mil pessoas foram afetadas, sem direito à indenização justa e sem participação nos acordos de compensação financeira. Ao todo 5 bairros foram afetados diretamente; Bebedouro, Pinheiro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol.

Diante deste cenário, a Cáritas Brasileira Nordeste 2, Comissão para Ação Sociotransformadora da CNBB NE2  e representante da Instituição Católica Alemã, Adveniat, acompanhada de organismos, pastorais e movimentos da Arquidiocese de Maceió participaram de uma agenda de três dias em Maceió, para conhecer de perto a tragédia que atingiu milhares de pessoas, além de propor ações de incidência, e soluções estruturantes para a mitigação dos impactos junto às famílias.

No primeiro dia a comitiva se reuniu com representantes das Pastorais Sociais e Organismos como Cáritas Arquidiocesana de Olinda e Recife, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Pescadores de AL, Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP), Comissão para Ação Sociotransformadora da CNBB, e o bispo coadjuntor da Arquidiocese de Maceió, Dom Beto Breis, sobre as ações das pastorais sociais para o ano de 2024.

 

À tarde, foram feitas visitas ao Complexo Lagunar Mundaú, e uma conversa na Federação de Pescadores do estado de Alagoas, no bairro do Vergel, com os representantes dos pescadores que trouxe impactos da tragédia como o descaso dos poderes públicos junto à categoria, falta de política pública e as fragilidades quanto a liberação da documentação para benefícios dos pescadores. “Nossos problemas são para além dos impactos ambientais da orla lagunar que é um nascedouro de peixes. Somos 3.000 pescadores que viviam da pesca, e hoje estamos enfrentando problemas para receber os benefícios do governo federal junto ao Ministério da Pesca, problemas de saúde mental como depressão, ansiedade das famílias, e a saída da lagoa para recomeçar a vida em um local distante e sem estrutura alguma tem afetado demais os pescadores”, comenta Maria José, presidente da Federação.

No domingo,17, as visitas pela manhã foram aos bairros dos Flexais e Bom Parto, encerrando na Casa de Velhice Luiza de Marilac, conduzida pelo cônego Walfran Fonseca, que teve a Paróquia Santo Antônio de Pádua, em Bebedouro interditada pela tragédia. À tarde, a comitiva visitou a Igreja Batista do Pinheiro, no bairro de Pinheiro, conduzida pelo pastor Wellington Santos, que foi fechada após ordem da Justiça Federal de interdição do local por causa do risco de colapso da mina 18. Com um templo fechado, eles alugaram uma casa nas proximidades para realizar os cultos e  atividades dominicais. “A nossa luta é pela resistência, querem desconstruir a nossa identidade, violaram os nossos direitos e nossa territorialidade, não vamos nos calar diante da Braskem. Vamos juntar todas as igrejas, religiões e população, pois um povo sem memória e um povo sem história, e não vamos apagar a nossa ! ”, afirmou o pastor.

A agenda em Maceió encerrou na segunda, 18, com reunião na Cúria Arquidiocesana, com participação de Dom Antônio Muniz, e Dom Beto Breis, e demais representantes para proposição de soluções estruturantes dos organismos e pastorais, como a criação de uma Comissão para ações de incidência e mobilização local; um seminário local  para discussão e proposições sobre o tema, e iniciativas de escuta às famílias dos bairros mais atingidos.

“A tragédia em Maceió é semelhante ao que aconteceu em Brumadinho e Mariana, e isso tem que ser tratado como crime ambiental, assim como responsabilizar os respectivos responsáveis. Nossa ação enquanto Igreja é dar voz às pessoas em situação de vulnerabilidade, e aqui são 60.000 pessoas afetadas, o que nos provoca ações estruturantes, e mitigação e incidência local e nacional”, afirma Neilda Pereira da Silva, secretária executiva regional da Cáritas NE2.

A Cáritas Brasileira NE2 atua em Alagoas,  junto a Cáritas Arquidiocesana de Maceió , e os agentes Cáritas da área de  Meio Ambiente Gestão de Riscos e Emergências ( MAGRE) estão acompanhando, monitorando e em solidariedade às pessoas atingidas por esse crime socioambiental na exigência pela responsabilização e reparação da empresa e reparação às famílias expulsas de suas casas, fruto de um resultado de um modelo de desenvolvimento que prioriza o lucro em lugar da vida das pessoas e do meio ambiente.


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