Comunidades de Maceió se organizam em busca de reparação dos danos morais coletivos
	
			
	
	       Seminário fortalece as vozes das lideranças locais, que compartilham experiências e constroem caminhos para o recomeço
Maria José criou seus filhos catando sururu na Lagoa Mundaú. Com a suspensão da pesca após o desastre socioambiental causado pela mineração, perdeu sua principal fonte de sustento. Jorge Siri, ídolo do futebol alagoano, se emociona ao recordar os dias no campo do CSA, no bairro do Mutange, também evacuado por conta do afundamento do solo. Assim como eles, muitas outras pessoas atingidas querem que suas vozes sejam ouvidas — e que suas histórias sirvam de ponto de partida para a reparação dos danos morais coletivos.
Foi com esse propósito que, neste sábado (25), o Centro Cultural do Sinteal (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas) sediou o 
seminário “As Vozes das Lideranças: Caminhos para a Reparação de Danos Coletivos”. Organizado pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 e pela Cáritas Arquidiocesana de Maceió, o evento reuniu cerca de 100 lideranças comunitárias. 
O seminário integra o Projeto de Formação de Lideranças e Coletivos em Organizações Comunitárias, que faz parte do Programa Nosso Chão, Nossa História — coordenado pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE) e operacionalizado pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS/ONU). O evento marcou a culminância do projeto na busca por fortalecer o 
protagonismo das organizações sociais na construção de iniciativas de reparação de danos morais coletivos.
Mulheres, grupos culturais e esportivos, marisqueiras, pescadores e lideranças atingidas pelo desastre compartilharam suas dores, mas também apresentaram propostas concretas para recomeçar. A troca de experiências incluiu ainda o aprendizado com as comunidades de Mariana e Brumadinho (MG), que enfrentam desafios semelhantes na reparação de danos morais coletivos após os rompimentos de barragens.
Entre os projetos apresentados, muitos têm na arte e no esporte um caminho de resistência e empoderamento — desde grupos de capoeira e coletivos de fotografia até contadores de histórias e projetos esportivos. Essa força também se expressou nas apresentações da Capoeira D’Angola Palmares e do Coco de Roda Mandacaru, 
grupo originário do bairro do Bebedouro, uma das áreas atingidas.
A Associação de Marisqueiras e Pescadores de Benedito Bentes apresentou o projeto “Entre a dor e a resistência”. Formado por cerca de 100 mulheres associadas e outras 300 não associadas, o grupo reúne trabalhadoras removidas da beira da Lagoa para um terreno cedido pela Prefeitura — onde hoje enfrentam preconceito, violência e falta de assistência. Elas sonham com um espaço de convivência digno, que lhes permita trabalhar, se organizar e reconstruir suas vidas.
“Me deram a moradia, mas não me deram a sobrevivência. Tiraram o que era mais precioso pra mim: a lagoa, o sururu e a pesca. Este projeto e este seminário estão nos dando voz — e este é o primeiro passo. Vamos nos juntar com outras mulheres para que saibam que seus direitos foram violados e que precisamos estar unidas para exigir justiça”, afirma Maria José, do Coletivo de Mulheres da União de Alagoas.
Durante o encontro, também foram apresentadas as experiências da Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais na reparação dos danos provocados pelos desastres de Mariana e Brumadinho. Os impactos, que vão muito além das perdas materiais, continuam afetando o meio ambiente e a vida das comunidades até hoje — evidenciando os danos morais, sociais e psicológicos que persistem.
Dois pontos conectam as realidades de Alagoas e Minas Gerais: o apagamento das memórias e silenciamento das populações atingidas, e a importância da organização comunitária como força de resistência e instrumento de reparação.
A troca de experiências entre os dois estados continuará para além do Projeto de Formação de Lideranças e Coletivos em Organização Comunitária. No próximo dia 30 de outubro, às 19h, será realizada a roda de diálogo virtual “Territórios Vivos, Comunidades em Resistência”, uma parceria entre as Cáritas Regionais Nordeste 2 e Minas Gerais, aberta a todas as comunidades afetadas.
A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 é parceira do Programa Nosso Chão, Nossa História, uma iniciativa do Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE) e do UNOPS/ONU, voltada à reparação dos danos morais coletivos causados pelo afundamento do solo em Maceió. As ações e atividades desenvolvidas pelos parceiros refletem suas próprias abordagens e responsabilidades, alinhadas aos objetivos do Programa.
Programa Nosso Chão, Nossa História
O Programa Nosso Chão, Nossa História atua na reparação dos danos morais coletivos causados pelo desastre socioambiental em Maceió, além de mitigar seus impactos e promover o bem-estar para a população atingida.
O Programa apoia projetos em diferentes áreas resultados da primeira geração de editais, como assessoria técnica e jurídica, produção de memória, fortalecimento das culturas locais, saúde mental comunitária, geração de renda, bem-estar animal e outras iniciativas. Todos os projetos foram selecionados por meio de edital, garantindo diversidade de propostas e ampla participação da sociedade civil e de órgãos públicos.
O Programa é executado pelo UNOPS, escritório de projetos da ONU, a partir das diretrizes definidas pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais, com recursos oriundos de acordo firmado em ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL), que responsabilizou a Braskem pelos danos morais coletivos à população de Maceió.
Saiba mais:
Ou no Instagram @nossochao.maceio, @caritasregionalnordeste2, e @caritas_mcz.



 
	