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Pesquisa revela efeitos devastadores das eólicas em comunidade de Caetés (PE)

Pesquisa revela efeitos devastadores das eólicas em comunidade de Caetés (PE)

Um trabalho desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz e da UPE acendeu o alerta da comunidade acadêmica para aquilo que já era dito pelas comunidades afetadas por parques eólicos e movimentos sociais que os assessoram, como a Cáritas Braslieira Regional Nordeste 2 e Comissão Pastoral da Terra (CPT) . Realizada na comunidade de Sobradinho, em Caetés (PE), a pesquisa revela: 70% dos que moram próximo às torres tomam medicação de uso contínuo; 64% usam remédios para dormir; 61% tem sintomas de adoecimento mental; 74% têm alterações auditivas.

Desenvolvida pelos pesquisadores André Monteiro (Fiocruz) e Wanessa Gomes (UPE), a pesquisa foi realizada por meio do Inova Fiocruz e em articulação com a Residência em Saúde Coletiva com Ênfase em Agroecologia da UPE. O diagnóstico envolveu 37 domicílios e 105 moradores, 90% deles agricultores, que residiam a uma distância de 100m a 900m das torres eólicas.

Os resultados mostram que os impactos atingem também as famílias que moram a 900m, o que reforça a necessidade de que a legislação estabeleça distanciamento mínimo entre as torres e as residências. “Há um estudo, em Portugal que comprova que, a uma distância de um quilômetro e meio, os infrassons afetam a saúde. Acreditamos que os impactos alcancem distâncias ainda maiores. E vale ressaltar que essa distância não deve considerar apenas a casa, mas o entorno, onde os moradores trabalham e passam a maior parte do tempo”, afirma Wanessa Gomes (UPE).

Infrassons são os ruídos de baixa frequência, que não são audíveis, mas causam efeitos sobre a saúde. Estudos relatam o que se chama de Doença Vibro Acústica (DVA), uma patologia sistêmica ocorrida em razão da excessiva exposição a estes ruídos. Ela leva ao aumento desenfreado da produção de colágeno e elastina; e engrossamento das paredes dos vasos, interferindo no fluxo sanguíneo e causando, entre outras coisas, doenças cardiovasculares. Sessenta por cento dos moradores de Sobradinho, que participaram da pesquisa, sofrem de hipertensão.

A chamada Síndrome da Turbina Eólica também já está documentada em bibliografia científica. Seus sintomas incluem efeitos na Saúde Mental; Visual; Auditiva; Cardíaca, vascular e respiratória; fisiológica e bioquímica.  Entre os moradores de Sobradinho, mais de 60% apresentam sintomas de adoecimento psíquico: estresse, irritabilidade, palpitação, tristeza profunda, ansiedade, vertigem, cansaço, falta de vontade de viver.

O efeito tremeluzente, causado pela sombra das turbinas, também gera impactos na visão e foram relatados por mais de 30% dos entrevistados. Já os impactos na audição, que tinham sido relatados por 54% dos participantes da pesquisa, revelaram-se ainda mais graves após exames de audiometria, realizados em parceria com a Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúda de Alagoas).

Dos 31 moradores que realizaram o exame, 74% apresentaram alterações em, pelo menos, uma das orelhas. Além dos sintomas como zumbido e redução na capacidade auditiva, há vários relatos de problemas como tontura e falta de equilíbrio.

Outro impacto na saúde, citado por 49% dos entrevistados, refere-se a alergias causados por um pó branco que se desprende das torres e atinge as residências e a água das cisternas.

Para o pesquisador André Monteiro (Fiocruz), o êxodo rural é uma das consequências desastrosas destes impactos. “As pessoas são forçadas a abandonar seus territórios”, diz. Segundo ele, o diagnóstico realizado revelou que quase 60% das pessoas demonstram desejo de sair de suas residências, das quais 70% apontam as eólicas como o motivo para isso. O mapeamento construído para realização da pesquisa apontou 12 casas vazias, que tinham sido abandonadas ou demolidas.

Além dos impactos na saúde, concorrem para a decisão de abandonar seus sítios a redução da renda familiar. O desaparecimento de animais polinizadores, como abelhas e morcegos, afeta a produção agrícola. Já os que trabalham com criação de animais relatam casos de aborto ou de atordoamento dos bichos – causando estresse e automutilação.

A pesquisa tem sido realizada desde 2023 e ajuda a dar visibilidade aos impactos do modelo de produção de energia eólica no Nordeste. Com duas reportagens já publicadas em jornais e portais de grande circulação e reconhecimento nacional, ela dá um peso acadêmico e científico a problemas que já vinham sendo relatados, tanto pelas comunidades afetadas quanto por movimentos sociais, como a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 e Comissão Pastoral da Terra.

Uma de suas grandes contribuições foi, ainda, o fortalecimento da articulação da sociedade civil por meio da chamada Escola dos Ventos.  Ela congrega, em reuniões mensais realizadas nas comunidades, os moradores do local e organizações diversas, para fortalecimento da ação coletiva. Um trabalho essencial para se rever as políticas públicas voltadas para o setor e os modelos de exploração da energia eólica no Brasil.


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